É difícil acreditar que um único ser humano seja capaz de compilar a história completa de um artista, especialmente quando o astro é tão grande que transcende a mera linha do tempo. Fica complicado contemplar, em uma única biografia, as várias facetas de gente do quilate de Beatles ou Stones, até mesmo porque os fãs nunca se contentam, e os jornalistas nunca se cansam de lançar uma nova versão. Por isso mesmo é que o livro “The Dark Side of The Moon – Os bastidores da obra-prima do Pink Floyd” começa com um ponto a seu favor, já que se despe desse tipo de ambição e contenta-se em esmiuçar uma parte – provavelmente, a mais importante – da trajetória de uma grande banda de rock.
Outro grande ponto do livro é o seu autor. O jornalista John Harris, além de fazer parte do cenário sobre o qual escreve, tem um texto delicioso, que dissolve na boca feito balinha, e conseguiu a proeza de não se tornar um chato específico, mesmo delimitando muito bem o tema de sua obra. Harris contextualiza de forma magistral a chegada de Dark Side na história do Floyd: perpassa seus antecedentes, incluindo o prejuízo da “saída” de Syd Barrett, as dificuldades de relacionamento da banda e o florescer de egos tão distantes mas que, juntos, foram capazes de produzir algo bacana para o universo. E, exatamente por não se obrigar na tarefa de contemplar todos os porquês da banda inglesa, o leitor pode-se deixar seduzir pelo cenário montado por Harris e embalar na viagem do autor sem se sentir enganado. E o embalo raramente dura pouco: desgrudar do livro não é tarefa fácil.
As entrevistas que pipocam pela obra são muito legais e o autor parece não ter deixado ninguém de fora. Operadores de som, empresário e até mesmo o pessoal da Hipgnosis (a trupe de designers responsável por grandes capas do Floyd) entrou na brincadeira, além dos próprios integrantes, claro. Harris também deu o paradeiro de toda essa gente: ao final do livro, é possível saber onde foi parar a cantora responsável pela improvisação vocal em “The Great Gig in The Sky”, a mais aclamada do mundo pop. Durante a leitura, você também vai descobrir que as vozes que recheiam todo o álbum foram fruto de entrevistas de Roger Waters no próprio estúdio, e que Paul McCartney foi cortado de entrar no álbum porque não soube entrar na brincadeira das falas improvisadas.
“The Dark Side” – o livro, não o álbum – pode não ser uma obra definitiva mas, certamente, recheia qualquer biografia obrigatória sobre o Pink Floyd. Agrada gregos, troianos e alguns dissidentes. Já em relação aos fãs, eu não garanto. Afinal, fã que é fã sempre sabe um pouco mais…
PS – desculpem a ausência de ontem, sabe como é, fui comemorar o aniversário de 60 anos do tio David Bowie…
realmente, não dá pra desgrudar da ‘leitura de dark side’ assim fácil… pricipalmente quando a trilha sonora é o próprio dark side.