A maioria das bandas brazucas entra ou já entrou um dia no terrível dilema entre cantar na língua-mãe ou partir para o inglês, berço do rock. Muitas argumentam que o roque soa melhor in English. Mas a real, real mesmo, é que escrever belas letras em português é uma arte a que poucos se mostram aptos. É preciso ter veia de poeta, veia de músico e, mais que tudo, veia de cronista. Uma boa letra não precisa ter muitas palavras; mas é imprescindível ter muita história pra contar. Tipo aquela lenda de que desafiaram Hemingway a escrever uma história com até seis palavras e ele a fez com maestria: “Doam-se sapatos de bebê nunca usados”.
Enfim, trago aqui duas bandas que, na minha opinião, contam belas crônicas com uma melodia deliciosa. A primeira é a banda bauruense Estereoterapia. O escritor: Josiel Rusmont. Desde o primeiro álbum, “Sobre Avenidas e Nós”, os ouvintes eram arremessados a canções arrebatadoras com letras inesquecíveis. E agora a Estereo volta com o single “Lado B, Lado A” (resenhado pelo brother Giul, no Discoteclando) e nela a maravilhosa “Roger”, que só de citar me vem à cabeça, e sua história de um andarilho indie.
A outra novidade que me chega é o novo álbum do Violins, trupe goiana que lança o quarto CD, “A Redenção dos Corpos”. O mundo dos Violins te levanta da cadeira com músicas surpreendentemente boas e letras que poderiam ser uma Divina Comédia contemporânea – mas sem o céu. O escritor: Beto Cupertino. Só pelo título das músicas já é possível ter uma idéia do universo em que transita essa banda sensacional: “Padre Pedófilo”, “Rei Pornô” (com referências a Fidel), “Terrorista Justo” e “Festa Universal da Queda”. Não é choque pelo choque, não é transgressão por diversão. No retrato anárquico do Violins, não existe coturno pra abrandar o chute. É pé descalço contra um mundo de pregos.
Credencial Tosca decreta: difícil alguém tirar desse álbum o título de melhor do ano.
Concordo!Esse disco do Violins tá sensacional!Nunca me emocionei tanto ouvindo um disco nacional.Esses garotos deviam ter muito mais holofotes!!!!
qto a estereo eu posso afirmar que as letras são de um teor cultural excelente… agora vamos ouvir o violins…
Caramba, é uma afirmação ousada!